O que as igrejas andam ensinando?
Em 4 de dezembro de 2009

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Hoje vi um texto que fala sobre bizarrices que as igrejas têm ensinado para seus membros. Me fez lembrar de diversas situações onde visitei igrejas e presenciei besteiras e porcarias sendo ditas do altar em nome de Deus. E às vezes não é necessário nem ir a alguma igreja pra ver isso - basta ligar a TV em casa que um bom número dos programas evangélicos pra crente que não quer ir pra igreja e acha que pode viver sozinho canais religiosos já fala asneiras suficientes para semanas de tristeza de qualquer um que realmente lê a Bíblia.

Lembro de uma situação recente numa vila carente da minha cidade. Estávamos distribuindo panfletos de convite para uma tenda que nossa igreja montou no bairro, e ali haveria programas sociais durante as tardes e cultos à noite durante toda a semana. Eu entreguei o convite para um rapaz de uns 14 anos que, numa tarde quente de sábado, estava na varanda da casa vestido com terno e sapatos. Achei estranho um rapaz tão novo vestido assim para ficar em casa vendo os irmãos brincarem no jardim, ainda mais num calor como estava. Quando ele viu o convite, correu pra dentro de casa e, em questão de segundos, voltou com uma Bíblia. Então me explicou tudo o que sabia sobre costumes do povo de Israel quando saiu do Egito, fez uma ligação incompreensível com textos de João e de Paulo, e ligou todos os símbolos de Israel com explicações completamente deturpadas e descontextualizadas, todas embasadas no livro do Apocalipse. Saí tonto. Nas entrelinhas, o guri deixou escapar que estava freqüentando um curso bíblico que sua igreja (que ficava bem longe do bairro) estava dando aos domingos. Era esse curso que tinha ensinado tudo sobre Bíblia pra ele - e também que deveria usar terno, independente de qualquer coisa.

Há inúmeras questões que igrejas e pastores têm negligenciado atualmente. Levanto algumas:
1) A formação dos seus líderes: em muitas igrejas, para ser pastor só é necessário disposição. O estudo é uma porcaria que só faz perder tempo - o que importa não é a qualidade das pregações, nem se elas estão de acordo com a Bíblia; o que importa é quão alto o pregador consegue gritar.
2) O culto racional: em primeiro lugar, quando vamos ao culto devemos cultuar a Deus, e não só receber sua graça. Em segundo lugar, 1 Coríntios fala que o culto deve ser organizado, e não uma baderna onde todo mundo fica só gritando, falando e línguas e pulando - sim, são ótimas expressões de louvor, mas não quando as pessoas fazem isso achando prepotentemente que estão cheias do Espírito. E em terceiro lugar, a Bíblia fala em Romanos que nosso culto (tanto o da vida diária quando o da igreja) deve ser racional, ou seja, nada do que é feito deve acontecer sem que haja compreensão, raciocínio e cognição lógica dos motivos e objetivos.
3) A questão bíblica: muitos pastores acham que podem pregar coisas diferentes do que há na Palavra de Deus. Dizem ter revelação do Espírito para fazer e falar coisas que vão contra a Bíblia. De vez em quanto até conseguem, de algum modo, achar uma base bíblica sem contexto que dê uma meia-fundamentação esfarrapada para suas idéias hereges e mirabolantes. Aí, coisas como essa acontecem.
4) A falta de submissão: se as igrejas e pastores soubessem submeter-se, situações inconvenientes teriam possibilidades de serem resolvidas. A questão é que não há nem submissão à Bíblia e nem uns aos outros. Se um pastor quer conversar sobre algo que viu errado na vida do outro pastor, logo há uma briga de proporções gigantes dentro da igreja, seguida por um racha na comunidade e a frustração de alguns membros. A submissão permite servos caminharem juntos, edificando e corrigindo uns aos outros, e não desejando sempre mostrar "quem é melhor".

Enfim, há muitos outros pontos que também são deixados de lado. Tenho pena dos evangélicos de coração sincero que são liderados por guias cegos. Tenho pena, inclusive, dos guias cegos, por que esses têm possibilidade de serem bons líderes, mas não buscam melhora por que não querem - e então, no dia do juízo, perceberão suas falhas e negligências miseráveis.

Não há igrejas perfeitas, e nem a minha igreja é. E também não nos é exigido perfeição - apenas excelência. Excelência é fazer tudo da melhor maneira possível. E "a melhor maneira possível", dentro das igrejas, é uma fundamentação bíblica adequada, verdadeira e correta. A melhor maneira possível é ter uma liderança que fala da Palavra de Deus, e não tenta inventá-la. A melhor maneira possível é a vivência da humildade, tanto dos membros, quanto dos líderes e dos cultos - não pastores-show que conseguem gritar alto e ensurdecer "pelo Espírito" os seus fiéis, nem cultos que buscam apenas luzes e grandes bandas. Deus tenha misericórdia dos crentes, dos líderes e de suas igrejas.

O texto que li hoje é de um colunista da Revista Ultimato. Ele escreve no estilo de C. S. Lewis em "Cartas de um Diabo a seu Aprendiz", onde um diabo experiente educa um novato. Claro, acho que tentar copiar C. S. Lewis não foi uma boa idéia - afinal, Lewis usa o recurso com mais categoria -, mas o texto vale a pena. Clique aqui para ler.