Mato e pecado
Em 19 de janeiro de 2010

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Hoje lembrei de uma analogia bacana que veio à minha mente uns bons pares de anos atrás, quando fui incumbido de fazer uma limpa no matagal que crescia entre as lajotas do pátio de uma casa que havíamos alugado para abrir uma loja.

Sempre detestei serviços de jardinagem, especialmente "limpar matinhos entre as lajotas". A questão é que ali não eram pequenas ervas, mas grandes toceiras que nasciam entre os ladrilhos. Fiz o serviço um tanto a contra-gosto no começo. Porém, a sensação de ver o esquema ficando cada vez mais limpo e bonito me animou a fazer uma limpeza bem feita até o fim.

Um pátio de lajotas, com mato de todos os tipos e tamanhos crescendo em todas as juntas. Resolvi começar pelas toceiras grandes, e como não eram muitas, logo acabei a primeira parte do serviço - agora só faltavam as pequenas.

Aí é que me caiu a ficha. Quando olhei pro pátio, limpo de todas as grandes toceiras, ele parecia igual estava antes - nem um pouco mais limpo. A limpeza completa, visível e plena só veio depois dos inúmeros pequenos matos terem sido arrancados.

Acho que  mesmo funciona conosco e com o pecado. Sem dúvida meu coração é cheio do que poderíamos classificar de "pecadinhos" e "pecadões". Os maiores, assim como as toceiras, são mais difíceis de serem arrancados. Mas uma vez que você os começa a arrancar, saem de uma vez, com raíz e tudo, e não voltam a aparecer.

O que deixa tudo sujo mesmo são "pecadinhos", e assim como os matinhos, são em quantidade infinitamente maior do que os grandes. Não são fáceis de arrancar: nem sempre a raíz sai junto com o mato. E na maioria das vezes, um tanto da raiz ainda fica na terra, e o matinho volta a crescer.

De algum modo sempre nos concentramos naquilo que vemos como pecado grande em nossa vida, quando o que mais suja são os pecados pequenos que as vezes nem notamos cometer. Uma escorregada na língua, um mal trato para com pessoas próximas, uma pequena mentira (ou omissão) para não gerar problemas. Nada de absurdo, coisas simples; mas que entopem nosso coração e nos deixam imundos.

Não nego a necessidade de arrancar as grandes toceiras, mas os que mais podem incomodar são os pequenos matinhos - do mesmo modo que numa pista de corrida grandes pedras são visíveis e fáceis de desviar, mas pedregulhos pequenos podem causar uma escorregada na hora de correr e levar a um tombo.

Não sei quantos matinhos e matões você tem na sua vida. E talvez você nem curta muito jardinagem, assim como eu. Porém, uma boa "limpeza de matos" pode ser algo interessante: caso sejam matos do seu quintal, enquanto trabalha você terá tempo para refletir um pouco; e caso sejam matos do seu coração, você perceberá que no fim da limpeza poderá olhar para o ambiente limpo com aquela agradável sensação de um serviço bem feito. Pense nisso e, se puder, experimente.