Onde estou e para onde vou
Em 20 de novembro de 2009

Twitte este post!
Muitas pessoas têm me perguntado sobre o que eu farei depois de concluir a faculdade de teologia. Desconhecidos e descrentes querem saber se eu serei padre. Conhecidos e crentes querem saber se serei pastor. Pastores e colegas me questionam sobre pretensões ministeriais. Para mim, a resposta é simples - mas muitas vezes ela não é compreendida pelo simples fato de que as pessoas tem seus modelos pré-definidos de "pastor", "missionário" ou "estudante de teologia". O texto aqui será longo, mas convido você a ler todo ele - não para saber sobre mim, mas para que você mesmo tenha seus paradigmas (modelos pré-definidos) transformados.

Em primeiro lugar, "pastores" não são necessariamente pessoas formadas em teologia e "licenciadas" pela igreja. A verdade é que se alguém exerce algum tipo de liderança entre pessoas cristãs, inevitavelmente pastoreia este grupo de pessoas. Claro, quem pastoreia uma igreja inteira precisa ter qualificação para que não faça besteiras (por isso o estudo e o licenciamento). Mas aqueles que a igreja chama de "leigos", que cuidam de um grupo de estudos bíblicos ou do pessoal da juventude, mesmo sem ter formação - estes também pastoreiam, também lideram, também indicam o caminho. Sem ostentação, posso dizer que eu pastoreava antes de cursar teologia.

Em segundo lugar, "missionários" não são só as pessoas que vão falar de Jesus para os africanos. Na verdade, todo cristão deveria ser missionário - todo aquele que testemunha de Cristo cumpre sua missão, dada por Jesus na grande co-missão (bacana que você pode perceber que sendo um crente solitário nunca conseguirá obedecer a ordem) (aquela do "ide e fazei discípulos", de Mateus 28.19).

Pastores não são apenas pessoas que cuidam de igrejas, e missionários não são apenas pessoas que vão falar de Cristo e construir igrejas em algum lugar distante e complicado. Dentro do trabalho para o qual sou chamado, posso dizer que realmente serei - ou sou - um pastor e um missionário. Lidero um grupo de pessoas e testemunho sobre Cristo.

Mas existe ainda um outro ponto. Muitos acham que pelo fato de eu estar cursando teologia dentro de uma faculdade Luterana e também pela questão de eu fazer parte da Igreja Luterana, meu trabalho será cuidar de uma igreja depois de me formar - justamente o legítimo "pastor" do paradigma que a maioria tem. Leia com cuidado os próximos parágrafos para que não me compreenda errado. Abandonar a leitura no meio do caminho, a partir de agora, não é opção. Veja bem:

Ainda há a questão do chamado. O chamado é algo essencial para qualquer um que exerce um ministério, ao mesmo tempo que é algo difícil de compreender para quem vem de fora. Se Deus me chama e me mostra o lugar onde devo agir, não há como eu contrariar - há um fogo que queima meu coração e me impele cada vez mais para aquilo que Ele me quer, mesmo que eu esteja disposto a servir em outros lugares. Posso estar disposto a servir em qualquer posição ou ministério - como de fato estou -, mas há o lugar onde Deus quer que eu esteja. E é nesse ponto em que necessidade, capacidade, prazer e amor convergem.

Eu não sou chamado para pastorear uma comunidade. Ententa "pastorar", nesse caso, como o ministério de estar à frente de uma comunidade, fazer cultos todos os domingos pela manhã, visitar os membros, cuidar do grupo de senhoras, dirigir o grupo de jovens, fazer casamentos e enterros.

O chamado que tenho como pastor e missionário tem muito mais a ver com andar com um grupo de pessoas no meio do mato falando a respeito de como Deus se revela na criação. Tem muito mais a ver com uma fogueira e uma conversa sincera e realista sobre a vida dos que estão em volta dela, e a necessidade que cada um tem de Cristo.

Não nego a importância dos pastores em nossa comunidade, e não nego a nobreza do seu chamado. Creio de todo o coração que estes pastores - no sentido mais tradicional do "título" - são servos fiéis a Deus, dedicados, chamados, capacitados e aptos; que muitas vezes sentem o peso da expectativa da igreja e que muitas vezes têm de lidar com tensões e questões difíceis das igrejas.

Sei que vou fazer parte de uma igreja, e sem sobra de dúvida irei auxiliar no ministério pastoral - vou fazer cultos de vez em quando e vou ajudar o pastor com os trabalhos da comunidade uma vez ou outra. Mas tenho certeza de que trabalhar com acampamentos é meu chamado, e é o lugar onde a maior parte do meu tempo será gasta. Não com recreação ou divertimento para aqueles que participam do acampamento, mas com a pregação de Cristo num ambiente que torna os corações abertos e dispostos para um compromisso.

Algo que coloca ainda mais lenha na fogueira do meu coração é a estatística. Das pessoas que aceitam Cristo e continuam firmes no compromisso de segui-lo por toda a vida, 80% estão na faixa dos 10 aos 25 anos. Os outros 20% são menores de 10 anos ou maiores de 25. Agora, um pastor de comunidade tem que dar justamente um foco comunitário, que envolve gastar maior parte do tempo com pessoas adultas e famílias. Novamente digo que não nego a necessidade do trabalho pastoral. Mas estatisticamente, há uma pessoa trabalhando com exclusividade para as pessoas de 10 a 25 anos, enquanto há outros nove pastoreando o restante das idades. Se você tiver 1000 novos convertidos hoje, 800 terão entre 10 e 25 anos e os outros 200 estarão nas outras idades - porém, você terá apenas um pastor cuidando dos 800, enquanto outros nove pastores cuidam dos 200 restantes. Há um desequilíbrio, uma necessidade gritante, um vácuo ministerial.

O meu chamado é para trabalhar com os 800. Não me acho melhor do que nenhum pastor de igreja, e não acho que meu ministério seja mais importante - de forma nenhuma. Mas creio que tanto o meu chamado quanto a necessidade dele sejam motivos suficientes para que eu simplesmente permaneça nele e na vontade de Deus antes de me enquadrar dentro dos modelos tradionais eclesiásticos de pastor.

Acredito que eu até possa assumir um pastorado (no sentido comum da palavra), mas isso dificilmente acontecerá antes da minha disposição física, psicológica e espiritual para o ministério com acampamentos e jovens acabar. É uma questão de chamado. O dia que Deus me quiser fazendo outra coisa, eu saberei e obedecerei. Mas enquanto ele me quiser cuidando de pessoas no início de suas vidas e andando no meio do mato, é aqui que vou estar. Quando me perguntam o que vou fazer depois de me formar, posso dizer que serei um pastor e um missionário - mas a questão vai bem além dos modelos comuns e das paredes da igreja. Talvez não trabalhe sempre no mesmo acampamento - também é uma questão de chamado e de ardor no coração. Mas sei o lugar onde Deus me quer agora, sei que provavelmente vai durar um bom tempo, e nem de longe sou louco de desobedecer. Onde estou e para onde vou é, definitivamente, mais com Ele do que comigo.

3 comentários:

Caio disse...

Esse foi um comentário digamos bastante corajoso ! E a observação "Mais com ele do que comigo" reafirmou com solidez a tua realidade no serviço do Reino. On the right highway!

Esperatus disse...

É cara, você tem o dom de trabalhar com o acampamento (tem mesmo) e de trabalhar com jovens (que é mais difícil). Não precisa pensar em parar, deixe isso para Deus mesmo. Eu tenho certeza que você dá conta dos 800.
Abraço.

Priscila disse...

E pra te encorajar saiba que aonde vc for, sempre terá alguém do teu lado!
Tenho certeza de que vc fará com perfeição o que Deus tem te chamado a fazer...
E oro todos os dias pra que Ele continue a te capacitar e orientar!
(L)

Postar um comentário

Para comentar, selecione "Nome/Ulr" em "Comentar como". Ou, se preferir, selecione "Conta do google". Valeu!